Davi estava vivendo um dos momentos mais difíceis de sua vida. Talvez, pudéssemos pensar que enfrentar o gigante Golias tivesse sido o seu maior desafio – mas, a verdade é que tudo que nós vencemos rapidamente, não é o nosso verdadeiro confronto. Se formos honestos, nós até conseguimos enfrentar muitas situações difíceis com relativa tranquilidade – mas, algumas outras, parecem ter o poder de “tirar o chão de debaixo dos nossos pés”. Davi havia errado. E ele sabia disto. Como consequência do seu erro, seu filho estava gravemente enfermo. Ele ora. Ele chora. Ele jejua. Ele clama com todas as forças de sua alma. Ele espera.Seus criados vem e lhe oferecem pão, mas ele o recusa. Tentam levâ-lo a descansar, mas ele se nega. Ele permanece em uma vigília contínua de oração, lágrimas e gemidos diante de Deus. Mas, a criança morre. O que você faz, quando você, aparentemente, perdeu a luta? A Bíblia nunca nos prometeu que pelo fato de crermos em Deus ou seguirmos a Jesus, nossa vida seria um “mar de rosas”. Nunca prometeu que tudo seria conforme os nossos planos ou que seguiria o nosso cronograma ou a nossa agenda pessoal. A verdade é que a vida nem sempre é justa - mas, o que nos consola é que Deus continua sendo bom. A verdade é que a vida é como é. E, por mais difícil que ela se apresente a nós, precisamos encará-la com uma mistura de forte realismo e teimosa esperança. O que significa ter os pés firmes no chão; mas, ao mesmo tempo, os olhos fixos no céu. Ou, como disse o salmista há tanto tempo atrás: Elevo os meus olhos para os montes, de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do Senhor que fez os céus e a terra. Davi lutou até o último momento, e fez tudo que, como humano, poderia fazer. Ele orou tudo que poderia ter orado, chorou tudo que poderia ter chorado, gemeu tudo que poderia ter gemido. Mas, ainda assim, o filho morreu. Ninguém pode me julgar por eu insistir em lutar. Eu tenho este direito. Só Deus e eu sabemos o quanto dói lá dentro. E só Ele sabe o que realmente tudo aquilo significa para mim. Mas, quando, ainda assim, eu perco - há algo que eu preciso aprender. É aí que eu olho para Davi, e vejo que ele tem uma atitude que surpreende todos à sua volta. Quando ele constata que a criança faleceu – ele se levanta do chão onde havia se prostrado durante semanas, lava o rosto, se perfuma, troca as roupas, pede alimento, entra no tabernáculo, adora a Deus e vai consolar a esposa. Em outras palavras, ele volta a viver. Ele poderia viver em uma eterna culpa e dor pela perda que ele havia sofrido. Afinal, ele pensaria consigo mesmo – a culpa foi minha. Mas, ele escolhe fazer outro caminho – o caminho de resgatar a vida. Não é um caminho sem dor, sem lágrimas ou sem sofrimento –mas é o único modo de continuar. É quando eu preciso olhar para a vida e, ainda que com dor, dizer: Eu preciso ir adiante! Eu preciso continuar!Chorar faz parte do processo de levantar-se, mas dar a si mesmo a chance de voltar a sorrir, também. Eu tenho todo o direito de chorar - afinal, eu sou humano. Mas, eu tenho todo o direito de voltar a viver e a reconstruir mesmo que a partir das cinzas. Eu sei que algumas vezes, ninguém vai querer me dar esta chance. Isto porque há pessoas que parecem experimentar um prazer doentio em ver o nosso sofrimento. Parece mesmo que elas precisam me ver mal para se sentirem bem. Mas, é aí que eu preciso fazer uma escolha. Simplesmente, porque eu não posso permitir que o adoecimento dos outros me condene à uma tortura eterna. Eu não posso chorar para sempre. Eu não posso me submeter a viver um luto sem fim por aquilo que ficou lá atrás. Eu preciso sobreviver!Eu não posso sepultar o meu presente na dor do meu passado. Não posso me negar o direito de continuar, quando o próprio Deus me chama de volta à sua comunhão e vida. Eu preciso fazer como Paulo disse: esquecer as coisas que para trás ficam e avançar para as que estão diante de mim. Não é fácil e nem é sem lágrimas - mas é o único modo de continuar a viver. Está na hora de renovar a minha vida na presença de Deus e prosseguir para cumprir o seu plano. É hora de dizer para mim mesma: Eu preciso ir adiante!