A casa está um silêncio e só o barulho dos meus
pensamentos me invadem. Sabe aquele colinho de mãe?! Então é disso que eu
preciso hoje. Carnaval acabou e eu não pude sequer visitá-la. A distância é
grande e como já foi dito aqui antes, os recursos financeiros bem limitados. Nem sempre é possível estarmos juntas. Ô mãe eu sinto tanto a sua falta. Eu não fui capaz de
enxergar que o futuro pertence aos fortes. E agora que eu me lembrei disso, não
tem porto que me leve de volta. Não há avião mais rápido do mundo ou trem-bala
que me leve de volta ao passado para consertar os erros cometidos.Como me
deixei enganar tanto pelas pessoas? Mas mesmo que me falte algumas coisas sei que
teu coração está comigo. Queria seu conselho...como tantos que já me deu. Me sinto
as vezes uma alienígena no meio de algumas pessoas, me sinto só no meio da
multidão, sabe como é? É eu sei que a senhora sabe. As vezes lembro-me como foi dura a sua vida quando nós éramos
crianças, dizem que me pareço demais com a senhora, mas eu acho que eu não
tenho essa força não. Queria poder te contar que ando me decepcionando muito
ultimamente. Ô, mãe. A gente dá tanta volta no mundo pra quebrar a cara e dizer
que a senhora estava certa. Eu lembro como se fosse hoje aquele dia em que eu
te contei que ia morar longe, que ia conseguir trabalho e ter meu dinheiro.
Você chorou, lembra? Mas ao contrário do que eu pensava você me ajudou,
dizendo: “Vai e segue
teu sonho. Vai atrás do que faz você feliz. Vai e não olha pra trás. Espera o
que há de vir. Eu conheço esse teu coraçãozinho de sonhadora. Choramos juntas."
E ao chegar aqui foram tantas portas fechadas, tanta gente rindo da minha cara,
dos meus sonhos. Eu penso em desistir tantas vezes, ô mãe. Mas você está sempre com uma palavra pra me colocar de pé. Teve um dia que eu quase morri de
fome no frio e na chuva. E tenho certeza que aquela senhorinha que me ajudou
foi um anjo que atendeu alguma oração tua, minha mãe. Você me ensina tanto,
sabia? Foi por causa daquela surra quando eu peguei um bolinho sem pagar que eu
aprendi o que é honestidade. Foi por causa do seu orgulho quando eu tirava nota
boa na escola que eu aprendi a me orgulhar de mim mesmo. Minha escola foi com a
vida mãe. Aprendi mais que matemática e essas coisas bobas que todo mundo sabe.
Minha escola tem sido com dureza, sem muito mimo, com muita luta e muita força.
Ainda hoje guardo comigo suas palavras no momento em que eu sai de casa: “Não
deixe ninguém dizer que você não consegue ser feliz. Tá vendo aquela plantinha
ali no quintal? Ela não pode se mexer, não consegue levantar. Por isso que eu
vou lá e rego todo santo dia. Vê como ela está bonita. Você filha, é como
aquela plantinha. Eu te ajudei enquanto eu pude e vou sempre ajudar você. A
diferença é que você tem pernas pra escolher um caminho que não depende da
minha vontade. Depende da tua força. Vai cair muita água, muita pedra, muita
quentura e muita gente enganosa. Vai ter cobra, urubu, erva daninha e toda
aquelas pragas que a gente vê por aí. Mas você tem que ser forte. Olha pra
frente e segue teu destino. Tua felicidade depende de você e de quem você é.
Não esquece do teu valor …” Tem sido dureza, mãe. Mas eu consigo. Com muita
batalha chegarei lá. Obrigada por ser essa mãe que você é. Sinto muito estarmos
separadas. Vem me ver logo. Preciso do seu colo!
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