Ela descobriu que não está segura. Que tudo pode mudar na sua vida sem dó nem piedade. E ela intimamente quer isso. Quer que tudo desmorone na sua cabeça. Ela não quer mais se esconder no seu mundinho encantado e cor-de-rosa.
Ela descobriu que o seu mundinho encantado e
rosa, não é tão encantado e rosa assim. Que o mundo grande e cruel pode ser
mais seguro do que várias décadas em um casulo morno, protegido e confortável.
Descobriu que tudo tem hora para chegar. E
que tudo pode chegar a qualquer hora. E ela nem teve tempo de se preparar. Mas
ela já sabe que vai perder noites de sono pensando em como irá lidar com os
turbilhões de sentimentos que estão por vir. Ela descobriu que viver de verdade dá medo.
Que viver de verdade dá frio na barriga. Viver de verdade a deixou vulnerável
ao choro. Ao amor que não teve hora para vir e nem para ir. Aos problemas
intermináveis que não cabem em qualquer gaveta. Mas ela precisa resolver um por
um. Mas cadê a sensatez quando se está congelando por dentro? Quando se está
estupidamente tapando os ouvidos enquanto a realidade bate a sua porta? Ela se
pergunta.
Ser real dói. É confortável ser personagem. Mas ela enjoou do rosa. Deu náuseas. Apesar de seu mundo ser
encantado e rosa, ela aprendeu a gostar do mundo real e colorido. Do arco-íris que ela viu depois da chuva.
Ela não quer mais o seu casulo confortável.
E nem dias lindos de sol. E nem bailes de princesas. E nem dia certo para
viver. Nem hora marcada para ver a chuva. Ela quer a realidade colorida,
e do rosa misturado a todas as outras cores. Porque assim fica mais bonito.
Porque assim fica mais divertido.
Porque isso é viver de verdade. Porque se jogar, e não ter
medo de nada, e quebrar a cara, e sentir falta, e encarar a
realidade, e sentir um medo danado de viver, é melhor do que achar que se está
vivendo. E isso ela não quer mais.
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